Universidade Federal de Campina Grande
Unidade Acadêmica de Letras
Professora: Socorro Paz
Aluna: Maria Betânia da Costa Ataíde
Período: 2011.1
Curso: Letras
Fichamento (Quando se ensina língua, o que se ensina?).
1. Quando se ensina a língua, o que se ensina?
*Antônio Augusto G. Batista faz essa pergunta na introdução de seu livro para este autor, tratava-se da questão do ensino de língua portuguesa, mas nesse texto trata-se da língua e não apenas do Português, não apenas do ensino, mas do estudo, a qual se aplica o caso da língua.
Segundo Batista “Aquilo que se ensina não são as próprias coisas (a língua ou a historia mesma ), mas antes, um conjunto de conhecimento sobre as coisas ou um modo, dentre outros possíveis, de se relacionar com elas”.
1.1. Esta postura sugere que o ensino, seja lá o que for, é sempre o ensino de uma visão do objeto e de uma relação com ele.
1.2. Isto vale para o nosso objeto a língua; e mais ainda para os fenômenos aos quais nos dedicamos aqui: *O texto, os gêneros e a compreensão.
1.3. Outra reflexão sobre o que se ensina ou estuda quando se ensina ou estuda a língua, segundo Batista.
1.4. Gramática Nacional, Língua Pátria ou Idioma Nacional. Comunicação ou Expressão, Português.
2. É também na alteração desses pontos de vista ou a competição entre eles que pode explicar em certas medidas as polêmicas e as verdadeiras lutas que com frequência se travam para a definição de seu objeto e objetivos.
• A gramática? A leitura e a escrita? A língua oral? O processo de enunciação de textos escritos? O domínio de uma língua considerada lógica e correta em si mesma? O domínio de uma variedade linguística prestigiada socialmente?
• Dependendo da resposta que forem dadas a essas questões, diferentes práticas ensinarão diferentes objetos, com diferentes objetivos.
• Não é uma única teoria de Ensino que vai conter toda verdade, todas têm sua motivação.
2.1. Análise da língua com base na produção textual que o ensino de língua deva dar-se através de textos é hoje um consenso tanto entre linguistas teóricos como aplicados forma de trabalhar textos.
• As questões do desenvolvimento histórico da língua.
• A língua em seu funcionamento autêntico e não simulado.
*As relações entre fala às diversas variantes linguísticas
* As relações entre fala e escrita no uso real da língua.
2.2. Em muitos outros aspectos facilmente imagináveis, pois essa relação não é exaustiva, nem obedece a alguma ordem lógica de problematização.
2.3. Sabemos que um problema do ensino é o tratamento inadequado, para não dizer desastroso, que o texto vem recebendo, não o bastante as muitas alternativas e experimentações que estão sendo hoje tentadas.
2.4. Considerando os objetivos básicos da escola no trato da língua, é oportuno levantar a questão de se a escola deve trabalhar apenas o texto escrito ou envolvesse também com a questão oral.
3. Creio que ao se enfatizar o ensino da escrita não se deve ignorar a fala, pois a escrita reproduz o seu modo e com regras próprias, o processo interacional de conversação, da narrativa oral e do monólogo, para citar alguns.
3.1. A razão é simples, pois desenvolver um texto escrito é fazer as vezes do falante e do ouvinte simuladamente.
• Quando se estuda a língua o que se estuda?
• Maria de Fátima Carvalho Lopes reflete o seguinte.
• O que justifica a intervenção escolar num processo de aquisição que acontece naturalmente?
• Um dos objetivos gerais do ensino do português é desenvolver a competência da comunicação.
3.2. Em primeiro lugar, deve-se ter muito cuidado com a noção de competência comunicativa que não se restringe a uma dada teoria da informação ou da comunicação, mais amplos de uma etnografia da fala, uma análise das interações verbais, produções discursivas e atividades verbais e comunicativas em geral sem ignorar a cognição.
3.3. Nessa perspectiva, o trabalho em língua materna parte do enunciado e suas condições de produção para entender e bem produzir textos.
3.4. É claro que a gramática tem uma função sociocognitiva relevante, desde que entendida como uma ferramenta que permite uma melhor atuação comunicativa.
4. O que não se pode continuar fazendo é um trabalho isolado num só nível como se este fosse (auto) suficiente.
• Portanto, dizer que a análise da língua se limita a sintaxe é reduzir a língua a algo muito delimitado, pois os aspectos textuais e discursivos, bem como as questões pragmáticas, sócias e cognitiva são muito relevante e daí não se pode evitar de considerar o funcionamento da língua em textos realizados em gêneros.
• Noção de língua, texto, textualidade e processos de textualização.
• Texto e discurso não distinguem fala e escrita como querem alguns nem distinguem fala e escrita como querem alguns nem distinguem de maneira dicotômica duas abordagens em todos os casos, observa-se que discurso é visto como uma pátria e não como um objeto ou um artefato empírico.
4.1. Aprofundo a noção de língua por nos adotada. Nesse caso, não se deixa de admitir que a língua seja um sistema simbólico. Contudo ela é tomada como uma atividade sociointerativa desenvolvida em contextos comunicativos historicamente situados.
4.2. As teorias que privilegiavam o código (o significante) como objeto de análise e via a língua como um sistema de regras estruturada e determinado, mão tinha condição de se fazer indagações relevante sobre uma série de aspectos, por exemplo, a relação entre a língua falada e a língua escrita.
4.3. Diferentemente da língua a qual os manuais didáticos em geral operam, pode admitir que:
1ª A língua é um sistema simbólico geralmente opaco, não transparente e indeterminado sintática e semanticamente.
2ª A língua não é um simples código autônomo, estruturado como um sistema abstrato e homogêneo, preexistente e exterior ao falante; sua autonomia é relativa.
3ª A língua recebe sua determinação a partir de um conjunto de fatores definidos pelas condições de produção discursiva que concorrem para a manifestação de sentidos com base em textos produzidos em situações interativas.
4ª A língua é uma atividade social, histórica e cognitiva, desenvolvida de acordo com as praticas socioculturais e, como tal, obedece a convenções de uso fundadas em normas socialmente instituídas.
5. Enquanto fenômeno empírico, a língua não é um sistema abstrato e homogêneo, mas é:
1ª Heterogênea 1ª Indeterminada
2ª Social 2ª Variável
3ª Histórica 3ª Interativa
4ª Cognitiva 4ª Situada
5.1. Finalmente, postulamos também que a língua é uma forma de ação, ou seja, um trabalho que se desenvolve colaborativamente entre indivíduos na sociedade.
5.2. Noção de sujeito e subjetividade
• Para muitos autores, a reflexão sobre o funcionamento da língua em sociedade depende da noção do sujeito que temos.
• Para Possenti (1993), tratar do sujeito é responder à questão da relação entre quem fala e o que é falado.(cf.Possenti, pp.15-17).
5.3. Noção de texto e linguística de texto.
• Todos sabemos que a comunicação linguística ( e a produção discursiva em geral ) não se dá em unidades isoladas, tais como fonemas, morfemas ou palavras soltas, mas sim em unidades maiores, ou seja, por textos.
• O texto pode ser tido como um tecido estruturado, uma entidade significativa, uma entidade de comunicação e um artefato sócio-histórico.
• Dizer que os critérios definidores das propriedades de um texto são heurísticos equivale a propor que sejam indicativos e sugestivos para permitir a produção e a compreensão, mas não regras rígidas e formais como condições necessárias e suficientes para a boa-formação textual.
5.4. Hoje em dia, não faz muito sentido discutir se o texto é uma unidade da langue (do sistema da língua) ou da parole (odo uso da língua). Trata-se de uma unidade comunicativa (um evento) e de uma unidade de sentido realizada tanto no nível do uso como no nível do sistema.
6. O que se pode afirmar com certa segurança é que a sequência dos enunciados num texto não pode ser aleatória sob o ponto de vista linguístico, discursivo ou cognitivo.
• O texto acha-se construído na perspectiva da enunciação. E os processos enunciados não são simples nem obedece à regra fixas.
• Embora imagens e metáforas sejam heuristicamente adequadas para dar uma visão plasticamente rica e clara, é necessário, num passo posterior, enfrentar as questões teóricas e praticas.
• Beaugrande (1997), diz que: “O texto é um sistema atualizado de escolhas extraído de sistemas virtuais entre os quais a língua é o sistema mais importante”.
• Ele ainda diz que “É essencial tomar o texto como um evento comunicativo no qual convergem ações linguísticas, cognitivas e sociais”.
6.1. Na operação com a língua, lidamos mais do que com um simples uso de regras, sejam elas de sequênciação ou outras quaisquer.
6.2. Relacionando texto, discurso e gênero.
• Não é interessante distinguir rigidamente entre texto e discurso, pois a tendência atual é ver um continuo entre ambos com uma espécie condicionamento mútuos.
• A ideia do texto como “objeto de figura” sugere que se trata de uma configuração, ou seja, de uma esquematização que conduz a uma figura ou uma figuração.
• Entre o discurso e o texto está o gênero, que é aqui visto como prática social e prática textual-discursiva.
6.3. A textualidade e sua inserção situacional e sociocultural
• É importante ter presente que, se por um lado, o texto se ancora no contexto situacional com a decisão por um gênero que produz determinado discurso, e por isso não é uma realidade virtual, por outro lado, ele concerne às relações semânticas que se dão entre os elementos no interior do próprio texto.
6.4. Critérios de Textualização: Visão Geral.
• Os critérios de textualidade, tal como foram primeiramente definidos por Beaugrande /Dressler (1981), devem ser tomados com algumas ressalvas. Primeiro porque não se podem dividir os aspectos da textualidade de forma tão estanque e categórica.
7. Coesão: Para muitos, a coesão é o critério mais importante da textualidade.
7.1. Os processos de coesão dão conta da estruturação da sequência [surperficial] do texto (seja por recursos conectivos ou referenciais); não simplesmente princípios sintáticos.
7.2. A coesão sempre foi vista como um fenômeno da superfície do texto.
• A conexão referencial (realizada por aspectos mais especialmente semânticos).
• A conexão sequencial (realizada mais por elementos conectivos).
7.3. Coerência: Para Beaugrande (1980:19), a coerência subsome os procedimentos pelos quais os elementos do conhecimento são ativados, tais como a conexão conceitual. A coerência representa a análise do esforço para a continuidade da experiência humana.
7.4. A coerência é, sobretudo, uma relação de sentido que se manifesta entre os enunciados, em geral de maneira global e não localizada. Na verdade, a coerência providencia a continuidade de sentido no texto e a ligação dos próprios tópicos discursivos.
8. Intencionalidade:
• O critério da Intencionalidade, centrado basicamente no produtor do texto, considera a intenção do autor como fator relevante para a textualização.
• A intencionalidade diz respeito ao que os produtores do texto pretendiam, tinham em mente ou queriam que eu fizesse com aquilo.
8.1. Aceitabilidade:
• Diz respeito à atitude do receptor do texto (é um critério centrado no alocutário), que recebe o texto como uma configuração aceitável, tendo-o como coerente e coeso, ou seja, interpretável e significativo.
8.2. A aceitabilidade, enquanto critério da textualidade parece ligar-se a noções pragmáticas a ter uma estreita interação com a intencionalidade, como lembrou Beaugrande (1997:14).
8.3. Situacionalidade
• O critério da situacionalidade refere-se ao fato de relacionarmos o evento textual à situação (social, cultural, ambiente etc.). A situacionalidade não só serve para interpretar e relacionar o texto ao seu contexto interpretativo, mas também para orientar a própria produção.
8.4. Intertextualidade
*Este critério subsome as relações entre um dado texto e os outros textos relevantes encontrados em experiências anteriores, com ou sem mediação.
• A intertextualidade, que supõe a presença de um texto em outro ( por citação, alusão etc.)
• A intertextualidade é um fator importante para o estabelecimento dos tipos de texto na medida em que os relaciona e os distingue.
• O que se pode dizer é que a intertextualidade, mais do que um simples critério de textualidade, é também um princípio constitutivo que trata o texto como uma comunhão de discursos e não como algo isolado.
9. Informatividade
• Este critério é o mais óbvio de todos, pois um texto é coerente é porque desenvolve algum tópico, ou seja, refere conteúdos.
• A rigor, a normatividade diz respeito ao grau de expectativa ou falta de expectativa, de conhecimento ou desconhecimento e mesmo incertezas do texto oferecido.
• Portanto, informatividade é um critério bastante complexo e pouco especifico.
9.1. Avaliação dos sete critérios da textualidade
• Segundo Beaugrande/Dressler (1981:20), estes critérios podem ser observados assim:
1ª Dois deles são orientados pelo texto (coesão e coerência)
2ª Dois pelo aspecto psicológico (intencionalidade e aceitabilidade)
3ª Um pelo aspecto computacional (informatividade)
4ªDois pelo aspecto sociodiscursivo (situacionalidade e intertextualidade)
• Daí dizer-se, como Beaugrande (1997), que o texto é um evento em que convergem ações linguísticas, cognitivas e sociais.
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